Cenário de teto rompido e aumento de impostos já é majoritário, diz Macro Capital

Na visão da Macro Capital, o cenário de rompimento do teto de gastos já é majoritário, dado que o presidente Jair Bolsonaro não dá mostras de querer desistir da extensão do benefício e o calendário é exíguo para a aprovação de reformas que abram espaço para o gasto extra - algo como R$ 30 bilhões.

Para aplacar a grita dos agentes e impedir uma derrubada dos mercados que poderia, no limiar, colocar em risco a recuperação econômica, o governo precisaria criar uma narrativa consistente. Ao mesmo tempo em que proporia uma elevação da carga tributária para bancar não apenas parte do gasto com o Renda Cidadã, mas também dar maior folga na dinâmica da dívida, haveria um compromisso de acelerar reformas e outras medidas de cunho fiscal, como a revisão de renúncias fiscais, por exemplo.

A forma como isso será comunicado é importante porque a reação dos agentes econômicos provavelmente seria negativa, ao menos num primeiro momento, diz o economista-chefe da gestora, Thiago Pereira. Um dos riscos que se corre, numa operação desse tipo, é passar a impressão de que está "tudo liberado" se cair a regra. A outra tem a ver com a função de reação do Banco Central.

"Hoje, a âncora fiscal que o BC olha é o teto de gastos. Se isso for feito, o teto rompe, mas a solvência da dívida melhora. Isso também é importante", diz. "Então a reação dos mercados pode ser ruim no curto prazo mas, com o tempo, os agentes podem entender que é positivo.”

A crença de que essa narrativa pode ser construída de forma eficaz - uma habilidade que o governo, inclusive, não mostrou até agora, admite - também ancora a expectativa da Macro Capital de que os juros permaneçam em 2% até o final de 2021.

O melhor cenário, ressalta Pereira, continua sendo aquele em que o teto é respeitado, possivelmente através de uma desistência da criação do Renda Cidadã. No entanto, dados os sinais vindos de Bolsonaro, a possibilidade de uma solução que envolva aumento da carga tributária ainda seria melhor que uma "solução sem compromisso", como seria o caso de uma extensão do auxílio emergencial, por exemplo.

"Sei que o presidente cansou de dizer que não iria fazer nada do que eu proponho - esta semana, [o ministro da Economia, Paulo] Guedes reafirmou que não vão elevar carga tributária. Mas a realidade se impõe em algum momento. Estamos fazendo piquenique na boca do vulcão", diz o economista. "Se tirar o teto sem contrapartida, a chance de a economia não se recuperar em 2021 é muito grande, mata qualquer chance de reeleição de Bolsonaro. O presidente pode optar por fazer uma maldade agora para poder colher frutos lá na frente."

(Com conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, o serviço de notícias em tempo real do Valor)


Fonte: Valor Investe

Data: 26/10/2020