Entram em vigor neste domingo tarifas sobre US$ 112 bi em importações chinesas para os EUA

RIO - Em mais um capítulo da guerra comercial travada entre as duas maiores economias do mundo, entraram em vigor, deste domingo, as tarifas adicionais de 15% impostas pelo governo americano sobre cerca de US$ 112 bilhões de produtos importados do país asiático, com grande impacto sobre os bens de consumo.

No total, as tarifas vão incidir sobre mais de três mil categorias de produtos chineses, entre elas utensílios domésticos e eletrodomésticos e bens alimentares de consumo, tais como ketchup e mostarda,  salchicha, frutas, legumes, leite e queijos.

Também serão cobradas taxas extras de artigos esportivos, como tacos de golfe, pranchas de surf e bicicletas, de instrumentos musiciais, roupas esportivas e até cadeirinhas infantis, segundo a lista oficial divulgada pelo governo americano.

Neste domingo, também entrarão em vigor as tarifas retaliatórias de 5% a 10% anunciadas pela China sobre US$ 75 bilhões em mercadorias americanas, que atingirão principalmente produtos agrícolas e petróleo.

Na sexta-feira, o presidente americano Donald Trump confirmou que as sobretaxas passariam a valer a partir deste domingo. Interrogado pelos jornalistas sobre  possibilidade de adiar a entrada em vigor das taxas adicionais, Trump respondeu: - Estão em andamento. E na quarta-feira, o gabinete da Representação Comercial dos Estados Unidos confirmou oficialmente os planos do presidente Trump de impor a tarifa adicional de 5% sobre uma lista de US$ 300 bilhões em produtos chineses a partir deste domingo e 15 de dezembro.

A lista de alvos inclui ainda TVs de tela plana, dispositivos de memória flash, ferramentas elétricas, suéteres de algodão, roupas de cama, impressoras multifuncionais e alguns tipos de calçados. A maior categoria de produtos direcionados abrange relógios inteligentes, alto-falantes inteligentes, fones de ouvido Bluetooth e outros dispositivos conectados à Internet que foram poupados de uma rodada anterior de tarifas, com importações chinesas estimadas em US$ 17,9 bilhões ao ano, segundo a Consumer Technology Association.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que toda a economia global sofrerá as consequências. Nos Estados Unidos, a guerra comercial desacelerou a economia, mas Trump alega que suas medidas contra a China "não são o problema".

O presidente atribuiu a culpa à política monetária do Federal Reserve (Fed), muito criticado por Trump por suas taxas de juros. A incerteza sobre o conflito começa a afetar empresas que planejam investimentos e o ânimo dos consumidores americanos.

As taxas que serão impostas a partir deste 1º de setembro fazem parte das anunciadas pelos EUA sobre um total de US$ 300 bilhões de bens chineses. No entanto, o governo americano decidiu adiar para a partir de 15 de dezembro a aplicação do imposto, também de 15%, sobre outra parcela dessas mercadorias - como celulares, laptops, brinquedos, videogames, roupas e calçados -, para que não tenha impacto nos preços antes da temporada de compras de fim de ano.

De acordo com a Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, as orientações divulgadas na sexta-feira indicaram que não haverá um período de carência para cargas que deixaram a China antes desse período, ao contrário do concedido para mercadorias em trânsito quando os Estados Unidos impuseram um aumento tarifário em maio.

Exclusões de tarifas nos EUA

O governo Trump excluiu alguns móveis domésticos de fabricação chinesa, incluindo berços e outros produtos de segurança para bebês,  bíblias e outros textos religiosos das rodadas de tarifas de 1° de setembro e 15 de dezembro.

Alguns dos produtos, incluindo modems e roteadores de Internet, foram removidos porque já haviam sido atingidos com tarifas de 25% anteriormente, enquanto outros foram retirados por razões de segurança ou religiosas. Rosários e medalhas religiosas fabricados na China, no entanto, ainda serão atingidos com tarifas de 15% neste domingo.

As sobretaxas que vão valer em 15 de dezembro

A segunda parte das tarifas de 15% sobre mercadorias chinesas não atingidas anteriormente pelos impostos dos EUA está programada para entrar em vigor em 15 de dezembro. Esta lista representa o coração do setor de tecnologia de consumo, incluindo US$ 43 bilhões em telefones celulares importados da China em 2018; US$ 37 bilhões em  laptops e tablets; e US$ 12 bilhões em brinquedos.

Trump adou a aplicação das rarifas sobre esses produtos, dizendo que queria evitar prejudicar as vendas de Natal para a Apple e outras empresas e varejistas.

A lista cobre cerca de US$ 156 bilhões em importações totais da China em 2018, com base em dados do Census Bureau dos EUA, e inclui uma ampla gama de bens de consumo, incluindo louças de plástico, meias, decorações de Natal e roupas.

As tarifas chinesas

De acordo com o Ministério de Comércio chinês, o país vai adotar tarifas adicionais de 5% e 10% sobre um total de 5.078 produtos originários dos EUA, tais como produtos agrícolas como soja, petróleo, aviões de pequeno porte e carros. No caso da soja dos EUA, já sujeita a uma tarifa chinesa de 25%, será atingida por um tarifa extra de 5% a partir deste 1º de setembro.

Também haverá uma tarifa adicional de 10% sobre as carnes bovina e suína oriundas dos EUA. Parte da sobretaxa entrará em vigor neste 1º de setembro, e o restante, em 15 de dezembro.

Já uma tarifa adicional de 10% sobre o trigo, milho e sorgo dos Estados Unidos entrará em vigor a partir de 15 de dezembro. Também em dezembro, a China adotará tarifa extra de 25% sobre os carros importados dos EUA, medida que fora suspensa durante as negociações comerciais. E, ainda, poderá aplicar 10% adicionais na importação de alguns veículos americanos. Com isso, a alíquota sobre as vendas de carros dos EUA poderá chegar a 50% em alguns casos, segundo a agência de notícias Reuters.

A China já tem tarifas em vigor no valor de US$ 110 bilhões em produtos dos EUA, variando de 5% a 25%, incluindo soja, carne bovina e suína, frutos do mar, legumes, gás natural liquefeito, uísque e etanol.

Com base nas importações de 2018, existem apenas US$ 10 bilhões em importações dos EUA intocadas, com a maior categoria consistindo em grandes aeronaves comerciais construídas pela Boeing.

Disponivel em: https://oglobo.globo.com

Data: 02/09/2019