Incerteza sobre 2021 deixa confiança do comércio em compasso de espera em novembro, diz FGV

As incertezas que rondam o cenário do primeiro trimestre de 2021 levaram a confiança do comércio a operar em "compasso de espera" em novembro, nas palavras do economista Rodolpho Tobler, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele fez a observação ao comentar a queda de 2,3 pontos no Índice de Confiança do Comércio (Icom) entre outubro e novembro, para 93,5 pontos, anunciada hoje pela fundação.

O segundo recuo consecutivo levou o indicador ao menor patamar em quatro meses, desde julho desse ano (86,1 pontos). Na prática, sem informações sobre continuidade ou não do benefício de auxílio emergencial; e a ausência de um calendário oficial para vacinação contra covid-19, os varejistas não têm, no momento, motivos para manter confiança em alta ao fim de 2020.

Tobler comentou que as incertezas nos cenários macroeconômico e sanitário brasileiro acabam por afetar tanto as percepções do setor quanto o momento presente, quanto as expectativas relacionadas ao futuro. Na evolução dos dois sub-indicadores componentes do Icom, o Índice de Situação Atual (ISA) caiu 5,4 pontos entre outubro e novembro, para 99,7 pontos; e o Índice de Expectativas (IE) ficou praticamente parado, com alta de 0,9 ponto no período, para 87,5 pontos.

"Mesmo com o ligeiro aumento, as expectativas ainda operam abaixo de 100 pontos em novembro", salientou Tobler, citando o quadrante favorável do indicador. "Tivemos redução da parcela de benefício emergencial" lembrou ele, lembrando do corte de R$ 600 para R$ 300 no benefício, para o últimos meses do ano, determinado pelo governo.

Com a parcela menor de auxílio, e perspectiva de término em dezembro desse ano, o consumo no quarto trimestre de 2020 não opera no mesmo ritmo do que em meados de 2020, quando o benefício era maior, comentou o especialista. Isso acabou por afetar o consumo e, por consequência, o humor do varejista no momento presente, em comparação com meses imediatamente anteriores notou ele.

Para o especialista, o momento-chave para o varejo será o começo de 2021 - e esse cenário ainda conta com pouca visibilidade, com muitas incertezas na economia e no combate à pandemia. "Não sabemos como será o consumo sem o auxílio", notou ele. "A questão da vacinação, o calendário, por exemplo como vai ser? Não sabemos" disse. "Esses dois tópicos são duas questões chaves para o varejo" disse.

A imprevisibilidade nesses dois fatores fez com que o comércio mantivesse trajetória negativa em novembro, e torna difícil tecer projeções do Icom para os próximos meses, observou ele. "Esperamos que o ritmo de recuperação na confiança do varejo opere a ritmo mais lento. Os empresários ainda mostram muita cautela em novembro", resumiu ele.

(Com conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, o serviço de notícias em tempo real do Valor)



Fonte: Valor

Data: 26/11/2020